"(...)Questionem a escrita e o enredo,
se perguntem como poderia ter sido melhor.
Se permitam buscar temáticas diferentes,
fujam do óbvio, do chato, do repetitivo,
se apaixonem pelo que não conseguem entender.
Escrevam, não para leitores,
mas para si mesmos. (...)"
Felipe Santiago Martins Coimbra Melo, nascido no interior de Minas Gerais (atualmente residindo em Praga, na República Tcheca), é Engenheiro de Software e baterista por hobby.
Publicou o livro de forma física ou online? Quais as vantagens e desvantagens de se publicar pela forma que escolheu? Publiquei de forma física. A primeira vantagem que percebo é a do acabamento. Pode-se investir não apenas no conteúdo mas também no material. No meu caso, o trabalho foi muito bem feito pela editora, desde a escolha do papel até o formato impresso (o livro é quadrado ao invés de retangular). A desvantagem é que a promoção se torna mais difícil, bem como a venda, pois envolve postagem.
Qual o seu conselho para as pessoas que querem lançar um livro? Simplesmente faça. Não espere uma grande ideia, o momento certo, o aceite da editora e outros obstáculos que estão fora do seu controle. E aquilo que escrever, escreva para agradar seu coração e sua mente. Se mais corações e mentes também forem agradados, quanto melhor, mas isso deve ser apenas um efeito colateral, pois também está fora do seu controle. Se você pensa em viver de literatura, consiga antes um trabalho que te dê tempo para escrever, pois a menos que você se venda ou tenha sorte de genuinamente apreciar gêneros de fácil circulação, esse sonho vai demorar. Além disso, a escrita, como qualquer outra habilidade também precisa de treino, portanto, treine todos os dias!
Como vê a literatura no Brasil? O Brasil, historicamente, não é um país de leitores, no meu entendimento. Parece não fazer parte de nossa cultura, ou ser algo que buscamos naturalmente. Vivo há cerca de dois anos em Praga e aqui é muito comum ver crianças lendo dentro de trens ou metrôs. A explicação talvez esteja no fato de que logo ao lado, os pais fazem o mesmo. É um círculo virtuoso. Já no Brasil parece não haver muito estímulo. Tivemos até um presidente da república que certa vez disse não ler por "ser muito chato e dar sono".
Por outro lado, talvez por seguir o estilo americano, o brasileiro é afeito a blockbusters. Os livros de Paulo Coelho, Augusto Cury e similares dão o exemplo. Todo elemento que tem muita exposição mediática parece ganhar nossa atenção sem incondicional. Os exemplos mais recentes que tenho são O Código Da Vinci, Cinquenta Tons de Cinza e, ainda mais recente, Sapiens. Foram muito lidos, ou pelo menos comprados. Mas antes foi necessária uma exposição agressiva em mídias diversas.
O que é preciso para que a literatura nacional seja mais valorizada? Do lado das editoras, diminuir o custo de aquisição, o que dependeria do custo de produção, o que dependeria de políticas de fomento, coisa que nesse momento vejo muito distante. Do lado dos escritores, originalidade e sinceridade. Escrever mais do mesmo e com foco apenas na aprovação do leitor não despertará mais interesse do que antes. Do lado dos leitores, perder a "síndrome de vira-latas", deixando de entender apenas o que vem de fora como tendo valor e, principalmente, ampliar um pouco os horizontes e deixar um pouco de lado os roteiros de sempre como "um empresário lindo e rico que se apaixona pela plebeia", ou "a mulher que se machucou em relacionamentos passados e agora teme um novo amor", e coisas desinteressantes na mesma linha. Nossa história é riquíssima, bem como nosso folclore, e precisamos explorar isso em todas as pontas da cadeia.
Como faz para divulgar o livro? Qual a melhor forma? Logo após a publicação eu usei muito o facebook, mas confesso que como faço por gosto, o que me motiva mesmo é o resultado, portanto não invisto muita energia em divulgação e não sei dizer qual seria o melhor caminho. Para o blog, uso grupo de facebook, às vezes o youtube e também iniciativas como essa.
Quando começou a escrever, fazia planos de seguir carreira? Sempre gostei de escrever, desde quando me lembro. Minha mãe é leitora quase compulsiva e me lembro das noites silenciosas da minha infância quando todos estávamos envolvidos com algum material impresso. Depois disso, sempre consegui boas notas em Literatura e Redação, e cheguei a ganhar alguns prêmios nesse campo, tanto na escola quanto fora. Contudo, sempre gostei de escrever contos, pois não sou muito afeito a continuações. Gosto de coisas que terminam sem precisar de várias interações (por exemplo, prefiro filmes a séries).
Comecei a escrever o livro com essa pegada. Chegava do trabalho, colocava um álbum, sempre o mesmo, e deixava sair, o objetivo sendo conectar com a maior fluidez possível muitas mãos e meu cérebro. Minha única preocupação na escrita era a fidelidade para com o que estava na minha cabeça. Era quase como uma terapia.
Passadas algumas semanas, resolvi ler aquilo tudo e percebi que havia ali algo bem maior que um conto, e o principal, eu adorei ler o que eu mesmo havia escrito. Naquele momento resolvi não necessariamente manter uma carreira, mas investir mais tempo na prazerosa atividade da escrita. Digo que não é uma carreira porque tempos depois comecei a escrever outro livro, mas dessa vez de forma planejada. Criei as personagens e comecei a ambientar a trama em torno de política, traições, incestos, traumas, drogas e deep web. Porém, toda vez que eu começava a escrever, começava também a me sentir mal por conta do que acontecia na narrativa, e também me sentia ansioso, pois como o que eu deveria escrever já estava definido, eu queria terminar o mais rápido possível. Não havia qualquer fonte de tesão naquele formato. Assim, decidi que o foco deve ser sempre dar vazão aos pensamentos, de forma como vierem, sem planejar. Se ao final o resultado puder ser chamado de livro, ótimo, caso contrário, terão me restado apenas os momentos de prazer da execução.
A internet influencia na carreira do escritor? Apenas na medida em que me oferece uma plataforma para publicação e exposição, como a possibilidade de participar desta entrevista, por exemplo. De resto, apesar de trabalhar com tecnologia e com coisas que hoje geram até medo, como Inteligência Artificial, minhas temáticas se dão majoritariamente em ambientes retrô, noir e com uma pitada de bucolismo, ou pelo menos é isso que minha cabeça tem me entregado até o momento.
Deixe um recado para seus leitores e seguidores do blog: Leiam muito, por diversão e por instrução. Questionem a escrita e o enredo, se perguntem como poderia ter sido melhor. Se permitam buscar temáticas diferentes, fujam do óbvio, do chato, do repetitivo, se apaixonem pelo que não conseguem entender. Escrevam, não para leitores, mas para si mesmos. E valorizem iniciativas como esta. Escondidos em lugares como este, longe do lugar comum, da mesmice e do óbvio, pode estar a resposta do que você vem buscando.
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